Lição 12
AS DORES DO ABANDONO
As pessoas estão cada vez mais centradas em si
mesmas, ninguém tem mais tempo para o outro. Por esse motivo, não são poucas as
pessoas que estão sendo abandonadas, inclusive dentro da igreja. Na lição de
hoje trataremos a respeito desse problema, mostraremos, a princípio, que essa é
realidade constatada na Bíblia. Em seguida, que o abandono pode resultar em
solidão. Ao final, apresentaremos encaminhamentos bíblicos para enfrentar a
solidão e o abandono.
Em II Tm. 4.9-18, Paulo, o Apóstolo dos Gentios,
relata sua situação de abandono, ou conforme uma tradução bíblica, de
desamparo. O verbo em grego é egkataleipo que significa “ser deixado para trás”
ou “ser desertado”. O Apóstolo estava preso, provavelmente em sua última prisão
em Roma, por volta do ano 60 d. C. Essas eram suas palavras finais antes de ser
executado por Nero, o sanguinário imperador que mandou incendiar a cidade de
Roma. A expressão “ninguém me assistiu”, no versículo 16, é um destaque da
condição na qual Paulo se encontrava. Mesmo assim, ele não se desesperou, pois
entrou um “mas” na história. Ele diz, no versículo 17: “Mas o Senhor
assistiu-me e fortaleceu-me, para que, por mim, fosse cumprida a pregação e
todos os gentios a ouvissem e fiquei livre da boca do leão”. Uma tradução
literal diria “o Senhor ficou do meu lado”. Mas o caso de Paulo não é único de
abandono na Bíblia, desde o Antigo Testamento, o povo de Israel passou por essa
realidade. O Senhor sempre prometeu permanecer do lado do Seu povo, mesmo
quando este fosse desamparado, azab em hebraico (Gn. 28.15; Dt. 31.6,8). O
próprio Jesus passou pala situação de abandono, alguns dos seus ouvintes
acharam suas palavras demasiadamente duras (Jo. 6.60). Os discípulos, nos
momentos angustiantes que antecederam Sua prisão, O deixaram sozinho (Mt.
26.46,47). Posteriormente, depois da Sua prisão, seus discípulos se
distanciaram dEle, Pedro negou que O conhecia (Mt 26.31, 70-72). Na cruz Jesus
se sentiu abandonado pelo Pai, citando o Sl. 22.1, Ele clamou em oração: Deus
meu, Deus meu, por que me desamparaste? (Mt. 27.46).
Desde o princípio, Deus criou o homem para ter
companhia, Ele mesmo atestou que não era bom viver só (Gn. 2.18). Adão estava
com Deus, mas precisava de outro ser humano para conviver. Diante dessa
necessidade, Deus criou Eva e ordenou que se multiplicassem. Depois da Queda
Adão e Eva deixaram de desfrutar da comunhão com o Criador, e entre eles
mesmos. O abandono e a solidão têm causas diversas, dentre elas destacamos: 1)
sociais – a tecnologia está fazendo com que as pessoas fiquem cada vez mais
solitárias e abandonem umas as outras. (No trabalho cada um fica no seu espaço
reservado, o membro das famílias não têm mais tempo para ficarem juntos; 2)
urbanização – na medida em que as pessoas se transferiram para as cidades,
foram fechando-se dentro de suas casas, mais recentemente nos apartamentos,
vizinhos que mal se conhecem; 3) televisão e internet – está tomando o tempo
das pessoas ficarem juntas para conversarem, elas ficam horas a fio diante da
tela; 4) baixa autoestima – as pessoas que têm um pensamento negativo a
respeito delas mesmo tendem ao isolamento, elas se abandonam antes de serem
abandonadas; e 5) medo – por causa dos muros, ao invés de pontes, construídas
pela sociedade moderna, cultivamos a cultura do medo de nos aproximar do outro.
O abandono, juntamente com a solidão, pode causar males às vidas das pessoas.
Algumas delas podem desenvolver depressão por causa do isolamento a que são
submetidas. O exibicionismo exagerado nas redes sociais – face book e twitter,
por exemplo – pode ser um sinal de solidão. Mas é preciso ter cuidado para não
se expor demasiadamente, pois as consequências podem ser desastrosas. Isso
porque nem todas as pessoas que estão na rede são compreensivas com aqueles que
passam por situações de abandono.
Nem sempre o abandono é uma realidade, na verdade, conforme já destacamos anteriormente, pode ser uma consequência do auto isolamento. Por isso, é recomendável que a pessoa que se sente abandonada, antes de qualquer coisa, não se abandone. O primeiro passo é reconhecer que Deus é Aquele que está sempre pronto a estar ao nosso lado (Is. 42.16). Há casos em que o abandono aconteceu em algum momento da infância e acompanha a pessoa durante a idade adulta. Em tais situações, a saída é orar pedindo a Deus que traga à memória tais aflições (Lm. 3.19), em seguida, entrega-las a Deus em oração. O Salmo 139.1-18 é um modelo de oração que expressa à presença de Deus, mesmo nas situações adversas, quando o sentimento de abandono assola o cristão. Ao invés de se queixar, aprendamos com Paulo a entregar aqueles que nos abandonam a Deus (II Tm. 4.14), e o principal, escolher perdoá-los (Cl. 3.13). A igreja deve ser um ambiente propício à cura do abandono e da solidão, mas infelizmente, como esta também foi contaminada pelo isolacionismo moderno, seus membros não encontram tempo para encorajar uns aos outros (Hb. 3.13). A igreja precisa estar atenta às pessoas doentes, viciadas, solteiras, idosas e desempregadas. Em uma sociedade utilitária, que se preocupa com as pessoas apenas pelo que elas podem fazer, a igreja é tentada a esquecer dessas pessoas. É preciso criar espaços de integração na igreja local, evitar a criação das “panelinhas”. A liderança deve investir em momentos de comunhão, não apenas para o culto, mas para estarem juntas.
O Deus da Bíblia é de comunhão, por sua própria
natureza, é trinitário: Pai, Filho e Espírito Santo. Ele tem interesse que as
pessoas vivam umas com as outras, por isso criou a família. A igreja é uma
extensão dessa realidade, não por acaso os que se congregam são chamados de
irmãos e irmãs. Mas é preciso cultivar relacionamentos na igreja, caso
contrário ela perde a razão de ser. Portanto, como diz o autor da Epístola aos
Hebreus, no sentido relacional, que deve ser peculiar da ekklesia: “não
deixando de congregar como é costume de alguns” (Hb. 10.25).
LUCADO, M. Você não está sozinho. São Paulo:
Thomas Nelson, 2012.
REAL,
P. Relacionamentos na igreja. São Paulo: Vida, 2003.
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