Lições Bíblicas CPAD / Jovens e Adultos
3º Trimestre de 2014
Título: Fé e Obras — Ensinos de Tiago para uma
vida cristã autêntica
Comentarista: Eliezer de Lira e Silva
TEXTO ÁUREO: “Meus irmãos, tende grande gozo
quando cairdes em várias tentações, sabendo que a prova da vossa fé produz a
paciência” (Tg 1.2,3).
2 - Meus irmãos, tende grande gozo
quando cairdes em várias tentações,
3 - sabendo que a prova da vossa
fé produz a paciência.
4 - Tenha, porém, a paciência a
sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos, sem faltar em coisa
alguma.
12 - Bem-aventurado o varão que
sofre a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual
o Senhor tem prometido aos que o amam.
13 - Ninguém, sendo tentado, diga:
De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém
tenta.
14 - Mas cada um é tentado, quando
atraído e engodado pela sua própria concupiscência.
15 - Depois, havendo a
concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera
a morte.
“Pare de sofrer! “, “É
tempo de vitória!”, “Você vai conquistar!”. Estas são frases de efeito bem
conhecidas no meio evangélico. Nelas, está presente a ideia do não sofrimento.
A lição desta semana é um resgate do ensino bíblico quanto ao valor do
sofrimento por Cristo e da sua importância para o nosso crescimento espiritual.
A epístola de Tiago nos mostra que devemos nos alegrar na tentação, pois a
partir desta reconhecemos a nossa inteira dependência de Deus. O sofrimento é uma
realidade e não podemos fugir dele. Em Cristo, temos o privilégio de sofrermos
para a honra do seu nome. A cruz de Cristo é a glória do Evangelho!
1° Conceituar a tentação.
2° Pontuar a origem da tentação.
3° Compreender o propósito da tentação.
Pela tentação de Jesus Cristo, a tentação de Adão
chegou ao fim. Tal como na tentação de Adão caiu toda a carne, assim toda a
carne foi libertada do poder de Satanás na tentação de Jesus Cristo, pois Jesus
Cristo carregou nossa carne, ele sofreu nossa tentação e obteve triunfo”
(Dietrich Bonhoeffer). Prezado professor, reproduza este fragmento textual
conforme as suas possibilidades e distribua-o aos alunos. Conclua a lição refletindo,
juntamente com a classe, sobre o texto do teólogo alemão. Afirme que há um Sumo
Sacerdote que em tudo foi tentado, mas sem pecado: Jesus Cristo. Este é a
mediação entre Deus e o homem e, por isso, podemos ir ao Pai com confiança (Hb
4.15,16).
Palavra Chave: Tentação: Impulso para a prática de alguma coisa censurável ou não recomendável.
Definitivamente, o homem moderno não está preparado
para sofrer. Os membros de muitas igrejas evangélicas, através da Teologia da
Prosperidade, têm se iludido com a filosofia enganosa do “não sofrimento”. O
resultado é que quando o iludido sofre o infortúnio, perde a fé em “Deus”.
Mas, que se entenda bem, num “deus” que nada tem
com as Escrituras! A lição dessa semana tem o objetivo de resgatar esse ensinamento
evangélico (Tg 1.2). Aprenderemos acerca da tentação, do sofrimento e da
provação, não como consequência de uma vida de pecado ou de falta de fé, mas
como o caminho delineado por Deus para o nosso aperfeiçoamento. Ninguém melhor
do que Jesus Cristo, com seu exemplo de vida, para nos ensinar tal lição (Hb
5.8). O convite do Mestre é um chamado ao sofrimento por amor do seu nome (Jo
16.33; Mt 5.10-12).
1. O que é tentação.
O termo empregado na Bíblia tanto no hebraico, massah,
quanto no grego, peirasmos, para tentação, significa “prova”, “provação”
ou “teste”. A expressão pode estar relacionada também ao conflito moral, isto
é, a uma incitação ao pecado. De fato, como mostram as Escrituras, a tentação é
uma provação, uma espécie de teste. O pecado, por sua vez, já se trata de um
ato imoral consumado. Por isso, a tentação não é, em si mesma, pecado, pois
ninguém peca quando passa pelo processo “probatório”. A própria vida terrena do
Senhor Jesus demonstra, com clareza, a distinção entre tentação e pecado. A
Epístola aos Hebreus afirma que Jesus, o nosso Senhor, em tudo r foi tentado.
Ele foi provado e testado em todas as coisas. Todavia, o Mestre não pecou (Hb
4.14-16). Portanto, confiantes de que Jesus Cristo é o nosso Sumo Sacerdote
perfeito, devemos nos aproximar, com fé, do trono da graça sabendo que Ele
conhece as nossas tentações e pode nos dar a força necessária para resistirmos
(1Co 10.13).
Do mesmo modo que o ouro precisa do fogo para ser
refinado ou purificado, o cristão passa pelas tentações para se aperfeiçoar no
Reino de Deus (1 Pe 1.7). Quando tentado, o crente é posto à prova para
mostrar-se aprovado tal como Cristo, que foi conduzido ao deserto para ser
tentado por Satanás e embora debilitado e provado espiritualmente, saiu do
deserto vitorioso e fortalecido, tendo em seguida iniciado seu ministério
terreno de pregação a respeito do Reino de Deus (Lc 4.1-13). À luz do exemplo
de Cristo, compreendemos bem o que Tiago quer dizer quando exorta-nos a termos
“grande gozo quando [cairmos] em várias tentações”. Tal conselho aponta para a
certeza de que ao passar pela tentação, além de paciente e maduro, o crente se
sentirá ainda mais fortalecido pela graça de Deus.
3. Felicidade pela tentação (v.12).
Quando o cristão é submetido às tentações há uma
tendência de ele entregar-se à tristeza e à angústia. Mas atentemos para esta
expressão: “Bem-aventurado o varão que sofre a tentação”. Em outras palavras,
como é feliz, realizado ou atingiu a felicidade aquele crente que é provado,
não em uma, mas em várias tentações (v.2). Ser participantes dos sofrimentos de
Cristo e ao mesmo tempo felizes parece paradoxal. A Bíblia, porém, orienta-nos
a que nos alegremos em Deus porque a tribulação produz a paciência, e esta, a
experiência que, finalmente, culmina na esperança (Rm 5.3-5). Isto mesmo!
Vivemos sob a esperança de receber diretamente de Jesus a coroa da vida. Uma
recompensa preparada de antemão pelo nosso Senhor para os que o amam. Você ama
ao Senhor? É discípulo dEle? Então, não tema passar pela tentação. Há uma
promessa: Você “receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que
o amam”. Alegre-se e regozije-se em ser participante das aflições de Cristo,
pois é justamente nessa condição — de felicidade verdadeira —, que Ele nos
deixará por toda a eternidade quando da revelação da sua glória (1Pe 4.12,13)!
1. A tentação é humana.
Embora a tentação objetive provar o
crente, as Escrituras afirmam que ela não vem da parte de Deus, mas da
fragilidade humana (Tg 1.13). O ser humano é atraído por aquilo que deseja. A
história de Adão e Eva nos mostra o primeiro casal sendo tentado por aquilo que
lhe atraía (Gn 3.2-6). Mesmo sabendo que não poderiam tocar na árvore no centro
do Jardim do Éden, depois de atraídos pelo desejo, Adão e Eva entregaram-se ao
pecado (Gn 3.6-9). A Epístola de Tiago aplica o termo “gerar”, utilizado no
versículo 15, à ideia de que ninguém peca sem desejar o pecado. Assim, antes de
ser efetivamente consumada, a transgressão passa por um processo de gestação
interior no ser humano. Portanto, a origem da tentação está nos desejos humanos
e jamais no Altíssimo, “porque Deus [...] a ninguém tenta”.2. Atração pela própria concupiscência.
O texto bíblico é claro ao dizer que “cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência” (v.14). A tentação exterioriza o vício, os desejos, a malignidade da natureza humana, isto é, a concupiscência. Ser tentado é sentir-se aliciado pela própria malícia ou os sentimentos mais reclusos de nossa natureza má. Você tem ouvido o ressoar das suas malícias? Elas te atraem? Ouça a Epístola de Tiago! Não dê vazão às pulsões interiores, antes procure imitar Jesus afastando-se do pecado. Assim, não darás luz ao pecado e viverás.
3. Deus nos fortalece na tentação.
Embora a tentação seja fruto da fragilidade humana,
quando ouvimos o Espírito Santo, Deus nos dá o escape em tempo oportuno: “Não
veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que vos não deixará
tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que
a possais suportar” (1Co 10.13). O Santo Espírito nos fará lembrar a Palavra de
Deus para não pecarmos contra o nosso Senhor Altíssimo (Is 30.21; Jo 14.26).
Todavia, para que isso seja uma realidade em nossa vida, precisamos cultivara
Palavra de Deus em nossos corações (Sl 119.11).
SINOPSE DO TÓPICO (II): A origem das tentações é a fragilidade
humana, a atração pela própria concupiscência. Todavia, Deus é a fonte do nosso
fortalecimento na tentação.
1. Para provar a nossa fé (v.3).
Na época de Tiago, os cristãos estavam
desanimados por passarem duras provas de perseguição. No versículo três, o
meio-irmão do Senhor utiliza então o termo “sabendo”, o qual se deriva do verbo
grego ginosko e significa saber, reconhecer ou compreender, para
encorajá-los a compreenderem o propósito das lutas enfrentadas na lida cristã:
Deus prova a nossa fé (Tg 1.12). À semelhança do aluno que estuda e pesquisa
para submeter-se a uma prova e, em seguida, ser aprovado e diplomado, os filhos
de Deus são testados para amadurecer a fé uma vez dada aos santos (Jo 16.33; Jd
3). O capítulo 11 da epístola aos Hebreus lista inúmeras pessoas que tiveram
sua fé provada, porém, terminaram vitoriosas e aprovadas. Por isso o referido
texto bíblico é conhecido como a “galeria dos heróis da fé”.
2. Produzir a paciência (vv.3,4).
3. Chegar à perfeição.
A habilidade de perseverar ou desenvolver a
paciência não acontece da noite para o dia. Envolve tempo, experiência e
maturidade. O meio-irmão do Senhor destaca na epístola a paciência para que o
leitor seja estimulado a chegar à perfeição e, consequentemente, à completude
da vida cristã, que se dará na eternidade. A expressão “obra perfeita” traz a
ideia de algo gradual, em desenvolvimento constante, com vistas à maturidade
espiritual. O motivo pelo qual o cristão é provado não é outro senão para que
persevere na vida cristã e atinja o modelo de perfeição segundo Cristo Jesus
(Sl 119.67; Hb 5.8; Ef 4.13).
SINOPSE DO TÓPICO (III): O propósito das tentações é amadurecer o
crente, para que este desenvolva a paciência e chegue à perfeição.
Sabemos que todo cristão passa por aflições e
tentações ao longo da vida. Talvez você esteja vivendo tal situação. Lembre-se
de que o nosso Senhor Jesus passou por inúmeras tribulações e tentações, mas
venceu todas, tornando-se o maior exemplo de vida para os seus seguidores. Cada
tentação vencida pelo crente significa um avanço rumo ao amadurecimento
espiritual. Um dia ele atingirá a estatura de varão perfeito à medida da
estatura de Cristo (Ef 4.13). Este é o nosso objetivo na jornada cristã! Deus
nos recompensará! Estejamos firmes no Senhor Jesus, pois Ele já venceu por nós
e por isso somos mais que vencedores.
PFEIFFER, Charles F.; VOS, Howard, F. Dicionário Bíblico Wycliffe. RJ: CPAD,
2009.
RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. 1 ed., RJ: CPAD, 2007.
RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. 1 ed., RJ: CPAD, 2007.
EXERCÍCIOS
1. Segundo as Escrituras o que é tentação?
R. O termo empregado na Bíblia tanto no hebraico, massah, quanto no
grego, peirasmos, para tentação, significa “prova”, “provação” ou “teste”.R. Os desejos humanos. O ser humano é atraído por aquilo que deseja.
R. A expressão “obra perfeita” traz a ideia de algo gradual, em desenvolvimento constante, com vistas à maturidade espiritual.
R. O motivo pelo qual o cristão é provado não é outro senão para que persevere na vida cristã e atinja o modelo de perfeição segundo Cristo Jesus (Sl 119.67; Hb 5.8; Ef 4.13).
R. Cada tentação vencida pelo crente significa um avanço rumo ao amadurecimento espiritual.
Subsídio Teológico
“A Tragédia do Desejo Consumado (1.15)
No versículo 14, concupiscência provavelmente
refere-se a qualquer atração para o mal. A linguagem, no entanto, é mais
comumente associada à indução ao pecado sexual. Tiago usa essa figura no
versículo 15 para traçar o curso do mal, iniciando com um pensamento errado,
que resulta em um ato pecaminoso e termina com o julgamento de Deus. Um
pensamento errado dá à luz quando lhe damos o consentimento da vontade.
Segue-se então o ato em si. Sendo consumado não se refere tanto ao ato
completado do pecado, mas sim ao acúmulo de atos maus que constitui uma vida
pecaminosa. Philips associa este versículo ao versículo 16 e o interpreta da
seguinte forma: ‘E o pecado com o tempo significa morte — não se enganem, meus irmãos!
‘” (TAYLOR, S. Richard. Comentário
Bíblico Bacon: Hebreus a Apocalipse. Volume 2, 1 ed., RJ: CPAD,
2006, p.160).
Subsídio Teológico
“A Tentação Vem de Dentro (1.14)
Tiago conhecia os poderes sobrenaturais do mal que
agiam no mundo (cf. 3.6), mas aqui ele procura ressaltar o envolvimento e a
responsabilidade pessoal do homem ao cometer pecados. O engodo do mal está em
nossa própria natureza. Ele está de alguma forma entrelaçado com a nossa
liberdade. A questão é: ‘Será que eu preferiria ser livre, tentado e ter a
possibilidade de vitória ou ser um bom robô?’. O robô está livre de tentação,
mas ele também não conhece a dignidade da liberdade ou o desafio do conflito e não
conhece nada acerca da imensa alegria quando vencemos uma batalha.
Tiago diz que cada um é atraído e engodado pela sua
própria concupiscência. Essa palavra epithumia (‘desejo’, RSV) pode ter um significado neutro,
nem bom nem mal. Assim, H. Orton Wiley escreve: ‘Todo apetite nunca se
controla, mas está sujeito ao controle. Por isso o apóstolo Paulo diz: ‘Antes,
subjugo o meu corpo e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu
mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado’ (1Co 9.27)’. Este talvez
seja o sentido que Tiago emprega aqui.
No entanto, na maioria dos casos no Novo
Testamento, epithumia tem implicações maléficas. Se for o caso aqui,
quando um homem é seduzido para longe do caminho reto, isso ocorre por causa de
um desejo errado. Tasker escreve: ‘Este versículo, na verdade, confirma a
doutrina do pecado original. Tiago certamente teria concordado com a declaração
de que ‘a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice’ (Gn 8.21).
Desejos concupiscentes, como nosso Senhor ensinou de maneira tão clara (Mt
5.28), são pecaminosos mesmo quando ainda não se concretizaram em ações
lascivas’. Se essa interpretação for verdadeira, há aqui mais uma dimensão na
origem da tentação. Desejos errados podem ser errados não somente porque são
incontrolados, mas porque, à parte da presença santificadora do Espírito, eles
são carnais” (TAYLOR , S. Richard. Comentário
Bíblico Beacon: Hebreus a Apocalipse. Volume 2, 1 ed., RJ: CPAD,
2006, pp.159-60).
O Propósito da Tentação
“Não nos deixes cair em tentação”. Foi a oração de
Jesus ensinada aos discípulos. No tempo da provação, angústia, tristeza e
sofrimento são realidades presentes na vida do discípulo de Cristo.
Infelizmente, e em nome de uma teologia, muitos desejam descartar da vida esta
realidade humana e não dá ao seguidor do caminho o direito de sofrer. Não é
isto que a Palavra de Deus nos ensina! Pelo contrário, o sofrimento por Cristo
nos dá a oportunidade de mostrarmos a nossa fé e amor por Ele, como os mártires
que não retrocederam na convicção do Evangelho.
A lição desta semana tem um penoso objetivo: o de
resgatar a doutrina bíblica do sofrimento por Cristo. Esta, por vezes, tem sido
esquecida pela Igreja Evangélica. Quando falamos de sofrimento, algumas pessoas
nos perguntam: “Mas por que o crente deveria sofrer?”; “Devemos ensinar a
teologia da miséria?” etc. Tais perguntas são descabidas, pois não escolhemos
sofrer por Jesus, é Este quem nos escolhe. Por consequência, ao vivermos para
Cristo precisamos estar dispostos a também sofrermos por Ele. Note as palavras
do Meigo Nazareno: “E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si
mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me. Porque qualquer que quiser salvar
a sua vida perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida a
salvará. Porque que aproveita ao homem granjear o mundo todo, perdendo-se ou
prejudicando-se a si mesmo?” (Lc 9.23-25).
As expressões “negue-se a si mesmo”, “tome cada dia
a sua cruz” e “siga-me” significam o convite para peregrinarmos o caminho da
execução do nosso eu. Este é o caminho da Cruz de Cristo! Há, porventura, coisa
mais difícil do que negar a nós mesmos? Esmagar a nossa vontade para fazer a do
outro? A expressão “cada dia” revela-nos que o caminho da cruz deve ser feito
por nós, diariamente, crucificando assim o “eu”. O teólogo French L. Arrington
amplia este conceito: “Tomar a cruz significa uma resolução diária em negar a
si mesmo por causa do Evangelho. [...] Não é questão momentânea, mas um modo de
vida. Os cristãos nunca devem deixar de carregar a cruz” (Comentário Bíblico Pentecostal Novo
Testamento, CPAD, p.374).
O Evangelho não deixa outra escolha: o nosso
caminho é o do sofrimento por Cristo. O ensino de Tiago sobre o sofrimento está
em pleno acordo com o Evangelho de Cristo.
AUXÍLIOS COMPLEMENTARES
Quando nos tornamos cristãos, temos a ilusão de que
a vida será convertida e não haverá mais problemas, ou testes. Acreditamos que
nunca faltará trabalho, que o orçamento será suficiente para cobrir todas as
despesas, que o casamento nunca irá falhar ou que não teremos a nossa fé
testada. Na realidade não é assim!
Quando temos um objetivo para alcançar devemos
saber que as tribulações virão junto, porque o nosso objetivo faz parte de um
contexto social onde cada passo deverá ser cuidadosamente analisado. Já no
contexto Cristão a tribulação ou tribulações fazem parte dos desafios de
transformação pessoal decorrente de um mundo que anda ao contrário do proposto
pela Bíblia e isso nos enche de aflições (tormentos, adversidades).É evidente que ninguém gosta de passar por tribulações, mas é igualmente evidente que todos nós passaremos por elas, querendo ou não. Mesmo Jesus, o homem mais santo que passou por esta terra, passou pelas aflições. O fato é que devemos ter em mente que a tribulação não produz apenas dificuldades e dores, pelo contrário, pode produzir muito mais do que isso. Esse pensamento é a chave para avançarmos e sermos vitoriosos.
I. O FORTALECIMENTO PRODUZIDO PELAS TENTAÇÕES
(Tg 1.2,12)
1. O que é tentação. A palavra aqui traduzida provações é o termo grego peirasmos
cujo significado temos que entender plenamente se é que desejamos captar a
verdadeira essência da vida cristã. Peirasmos é prova, juízo, tentação
dirigida para um fim. E este fim é que aquele que é submetido à prova saia dela
fortificado e purificado. O verbo correspondente, peirazein — às vezes
traduzido tentar — tem o mesmo significado. A ideia não é nos seduzir para que
pequemos, mas sim nos fortalecer, nos purificar e nos provar. Por exemplo:
diz-se que uma pintinho prova (peirazein) suas asas. A rainha do Sabá
foi provar (peirazein) a sabedoria de Salomão. É-nos dito que Deus
provou (peirazein) a Abraão quando lhe apareceu exigindo que
sacrificasse a Isaque (Gn 22.1). Quando Israel chegou à Terra Prometida, Deus
não retirou aos povos que já estavam ali, mas sim que os deixou para que Israel
pudesse ser provado (peirazein) na luta contra eles (Jz 2.22; 3.1,4). As
experiências de Israel foram provas que contribuíram à formação desse povo (Dt
4.34; 7.19).
Este é um grande e inspirador pensamento. Hort
escreve: “O seguidor de Cristo tem que esperar que as provas o impulsionem em
seu caminho cristão”. Teremos toda aula de experiências. Virá a prova da
tristeza e do desalento que tentará arrebatar nossa fé. Virão as provas dos
perigos, da antipatia, dos sacrifícios, coisas nas quais tão frequentemente o
cristão se acha envolto. Mas o verdadeiro propósito para o qual essas
circunstâncias nos sãos enviados não são para nos fazer cair, senão para nos
elevar. Não são enviadas para que nos derrotem, senão para que nós as
derrotemos. Não são enviadas para que nos debilitem, senão para que nos
fortaleçam. Portanto, não podemos nos lamentar por causa de tais provas, mas
sim, pelo contrário, nos exultar, nos alegrar. O cristão é como um bom atleta.
Quanto mais pesada a tarefa que o treinador lhe atribui, quanto mais
intensifica seu treinamento e por isso mais se alegra o atleta porque sabe que
todo vai capacitando para o vigoroso esforço que o levará à vitória.Quando Deus chamou a Abraão para viver pela fé, ele o testou com o fim de aumentar a sua fé. Deus sempre na prova para produzir o melhor em nós; Satanás nos tenta para fazer o pior em nós. As provas da fé provam que, de fato, estamos firmes em Cristo. As provações de nossa fé trabalham por nós, e não contra nós, visto que produzem perseverança. Deus está no controle de nossa vida. Tudo tem um propósito. Diz o apóstolo Paulo: “E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus...” (Rm 8.28). Paulo diz ainda que a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um eterno peso de glória (2Co 4.17). Em Efésios 2.8-10, Paulo diz que Deus trabalha por nós, em nós e através de nós.
Ele trabalhou em Abraão, José, Moisés antes de trabalhar através deles. E assim que Deus faz com você ainda hoje.
Paulo diz em Romanos 5.3-5 que as tribulações são pedagógicas, levam-nos à maturidade. A palavra hupomone significa paciência com as circunstâncias, ou seja, coragem e perseverança em face do sofrimento e das dificuldades. Os crentes imaturos são sempre impacientes. A impaciência pode acarretar graves consequências: Abraão coabitou com Agar, Moisés matou o egípcio, Sansão contou seu segredo para Dalila e Pedro quase matou Malco. Maturidade e fortalecimento espiritual não se alcançam apenas lendo um livro, é preciso passar pelas provas!
3. Felicidade pela tentação (v.2,12). Tiago orienta seus leitores a considerarem as tribulações, que
funcionam como prova da fé, como motivo para grande alegria. Evidentemente, o
autor não proíbe ao cristão o choro, a dor e a tristeza pelos infortúnios,
desgraças, desastres, perseguições, doenças e outras tribulações comuns a esta
vida, que subitamente vêm sobre nós, para nos provar. Não é pecado dizer a
Deus: “está doendo”, quando a prova se torna intensa. O próprio Tiago cita Jó
como modelo de sofrimento (5.11). E sabemos pelo livro de Jó que, ao ser
provado, ele sentiu profundamente a dor e a tristeza pela perda dos filhos e de
tudo que tinha, e ainda a angústia mental de não saber a causa de seus
sofrimentos (cf. Jó 3.1-26, etc.). Tiago também cita como modelos de sofrimento
os profetas do Antigo Testamento (5.10). Entre os que mais sofreram,
encontramos o profeta Jeremias, cujos lamentos e tristezas estão registrados em
seus livros (Ver Jr 15.10, etc.). Na verdade o que não devemos fazer é nos
afundar numa disposição mental triste e desconsolada, que nos faria desfalecer
nas provações, mas precisamos nos empenhar em manter o nosso espírito elevado e
firme, para melhor discernir a nossa situação, e para maior vantagem nossa
devemos empenhar-nos em fazer o melhor dela. Para agirmos assim precisamos
focar nossa visão não na tribulação, mas, sim, no caráter que ela produz quando
assim agimos. Outra coisa importante que precisamos entender é que alegria e
felicidade não é fruto de circunstâncias externas e matérias, mas de uma
atitude mental produzida pelo Espírito Santo.
Portanto, a alegria é produto do crescimento
espiritual, e consiste de um senso de bem-estar e de regozijo, porque o
indivíduo está em harmonia com Deus, desfrutando da comunhão com Deus que
satisfaz à alma e a torna feliz.
II. A ORIGEM DAS TENTAÇÕES (Tg 1.13-15)
1. A tentação é humana. A concepção de Tiago é de que Deus jamais induz o crente à tentação de
tal maneira que a única opção que ele tenha seja a queda. Face a decisão tomada
por Caim de matar seu irmão Abel, Deus o adverte no sentido de que ele resista
àquela tentação e que sobre ela tenha controle (Gn 4.7). Caim caiu, tornou-se o
primeiro homicida, não porque essa fosse a sua única opção. Ele caiu sob a
tentação porque escolheu assim fazer.
O apostolo Paulo tinha compreensão da afirmação de
Tiago (“Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta”), quando
escrevendo aos crentes de Corinto e a nós hoje, disse: “Não veio sobre vós
tentação senão humana; mas fiel é Deus, que vos não deixará tentar acima do que
podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que possais suportar”
(1Co 10.13). E nos escritos do apóstolo João ele nos mostra que as más
inclinações do coração do homem estão perfeitamente alinhadas com “a
concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos, e a soberba da vida” (1Jo
2.16). Portanto, o maior problema do cristão é quando ele permite que a
fraqueza da carne, a busca pelo prazer e a força da tentação vença a sua
determinação de não ceder.Assim como os rabinos, que falavam de um “impulso maligno” (Gr. yeserhara) que habita em cada pessoa, Tiago parece pensar na tendência inata do homem em direção ao pecado. A tentação brota deste “impulso maligno”, quando este atrai e seduz o homem. O primeiro verbo (Gr. exelkō) tem o sentido de alguma coisa que arrasta pela força, enquanto o outro (Gr. deleázō) sugere a atração exercida por uma isca. Os dois termos eram usados num sentido metafórico para descrever a força atrativa do prazer ou de professores convincentes. Mas, provavelmente, ainda está presente a figura da pesca, com a qual as palavras estavam originalmente associadas: a “cobiça” é como um anzol com sua isca, que primeiro atrai sua presa e depois a arrasta. Se a atração superficial da “cobiça” não sofrer uma brava resistência, a pessoa poderá acabar “fisgada”, incapaz de fugir de seu engodo todo-poderoso.
Os últimos dias nos quais vivemos, em especial, são “tempos trabalhosos” (2Tm 3.1). A influência do adversário é muito difundida e sedutora. Satanás tenta enganar e tornar o pecado atraente. Mas todo cristão é capaz de derrotar Satanás e vencer a tentação. Todo servo de Deus tem o poder do alto para vencer a tentação. Aqueles que se humilham perante Deus e oram continuamente por forças não serão “tentados além do que [podem] suportar”. Se obedecerem voluntariamente aos mandamentos, o Pai Celestial vai fortalecê-los para que suportem as tentações.
Paulo ensina que Deus pode nos capacitar para vencermos as tentações se permanecermos fiel à Sua Palavra (1Co 10.13-22). Atentemos para as palavras do apóstolo: “Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que vos não deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar” (1Co 10.13).
Deus permite que sejamos tentados (provados), porque Ele sabe até onde podemos suportar. A palavra “tentação” mencionada nesse versículo é peirasmos, uma palavra muito mais próxima de prova e teste, do que tentação. A tentação tem uma conotação negativa para nós. E algo colocado no nosso caminho para nos fazer pecar enquanto a prova é algo que Deus permite em nossa vida para nos depurar, purificar e fortalecer. Deus não tenta a ninguém, Deus prova (Tg 1.13). Quem tenta é o diabo. Quando Deus permite uma prova em nossa vida é para nos fortalecer e nos conduzir à vitória.
Paulo não diz que Deus vai livrá-lo da prova, mas com a prova Ele vai prover livramento. Às vezes queremos ficar livres da prova e libertos do problema. Deus não impediu que os três amigos de Daniel fossem jogados na fornalha; não impediu que Daniel fosse jogado na cova dos leões nem que Pedro fosse para a prisão. Deus não os livrou da prova, mas na prova.
Não deveria o crente olhar para a provação com medo
ou pesar, mas olhar além da provação, para os resultados que ela produz.
1. Para provar a nossa fé (v.3). Quando Deus chamou Abraão para viver pela fé, ele o provou a fim de
aumentar essa fé. Deus sempre na prova para fazer aflorar o que temos de
melhor; Satanás nos tenta a fim de fazer aflorar o que temos de pior. A
provação de nossa fé mostra que somos, verdadeiramente, nascidos de novo. Pois
só quando a fé é provada em meio as tentações e adversidade da vida é que ela
se transforma em testemunho vivo de fidelidade diante de Deus.
A provação trabalha a nosso favor, não contra nós.
A tradução para a palavra “confirmada” na versão revisada é “aprovada”. Mais
uma vez, o apóstolo Pedro nos ajuda a entender melhor essa afirmação: “Para que
a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado
pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória na revelação de Jesus Cristo”
(1Pe 1.7). Prova é a palavra usada para crisol em Provérbios 27.21 (LXX). O garimpeiro leva amostras de minério ao contrasteador para
testá-la. A amostra, em si, não vale mais do que alguns trocados, mas a
aprovação — a declaração oficial sobre o minério — vale milhões! Dá ao
garimpeiro a certeza de que tem uma mina de ouro. A aprovação de Deus de nossa
fé é preciosa porque garante que nossa fé é autêntica. Portanto, não importa
quão difícil ou desagradável seja a provação, é por meio dela que Deus está
aperfeiçoando o crente.O exercício da paciência é uma qualidade bastante difícil nos dias em que vivemos, principalmente devido ao corre-corre de nosso dia a dia, mas é de imprescindível importância para o crente que deseja ir morar no céu. É nos momentos de maior tensão que somos testados nessa qualidade do fruto do ESPÍRITO que está implantada em nós. É notado e louvado o cristão que consegue ser paciente diante das adversidades que surgem em seu viver terreno. Somente com a ajuda do ESPÍRITO SANTO é que conseguimos exercer paciência e ajudar aos que estão a nossa volta, a passar pelas tribulações do cotidiano.
Muitos crentes oram pedindo paciência, como se esta fosse uma virtude comunicada diretamente e exclusivamente por Deus. Com o fato de que a paciência é uma virtude aprendida, resultante das provações da vida, concorda o apóstolo Paulo quando escreve: “...a tribulação produz a paciência” (Rm 5.3). Portanto, que nenhum de nós se assuste ao ver multiplicada as suas tribulações, pois a paciência, perseverança é produzida em meio a dificuldades e tribulações da vida. A única maneira de o Senhor desenvolver paciência em nossa vida é por meio das tribulações. A paciência sob as provas nos guardará de dizer e fazer aquilo que nos prejudique a alma e aos que se acham ao nosso redor. Sejam as nossas provações quais for, coisa alguma nos pode causar sérios danos, caso exerçamos paciência.
O objetivo de Deus para nossa vida é a maturidade. Seria trágico se nossos filhos permanecessem bebês pelo resto da vida. Gostamos de vê-los amadurecer, mesmo quando a maturidade traz consigo certos perigos. Muitos cristãos guardam-se das tribulações da vida e, como resultado, nunca crescem.
Provado e aprovado por Deus, Davi pôde testemunhar da sua capacidade de esperar com paciência no Senhor, em meio às circunstâncias de adversidades da vida (Sl 40.1-3). Mas ao contrário do doce salmista de Israel, muitos crentes têm perdido excelentes oportunidades de crescerem espiritualmente e de desenvolverem o seu caráter em meio as provações pelas quais passam.
Desenvolver um caráter cristão requer paciência e perseverança. David O. McKay disse que assim com um escultor que leva algum tempo para moldar a partir de um material bruto e disforme uma linda obra, levamos uma vida para esculpir a nossa própria alma. Se “ela vai terminar deformada ou se revelará algo admirável e belo”, depende de nós, da nossa disposição em trabalhar para esse fim.
CONCLUSÃO
Tiago procura nos dizer que, a paciência cristã é
aprendida com as provações da fé, e uma vez que há um fruto espiritual
resultante de toda demonstração de fé nas provações, então estas devem ser
acolhidas com grande alegria e não com tristeza, porque são oportunidades para
glorificarmos o nome de Deus, e experimentarmos Seu poder consolador e
libertador, através delas, em crescimento rumo à nossa maturidade espiritual.Deste modo, o alvo da provação é muito mais do que simplesmente confirmar e aperfeiçoar
a nossa fé, pois se refere, sobretudo ao nosso amadurecimento espiritual.
Assim, a paciência é algo para ser aprendido e também para ser aplicado na hora da provação. Dificuldades e aflições dolorosas pode ser a porção até mesmo dos melhores cristãos, e é isto que o Espírito nos ensina pelas palavras do apóstolo mais do que uma vida para vivermos neste mundo há um testemunho e uma obra que devemos fazer para Deus.
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